sábado, 21 de setembro de 2013

Teologia Medieval e a Teologia Franciscana

      O Medieval, em sua produção teológica , usa o espaço da Universidade, da Catolicidade, e sua efetuação universal da estética teológica é a construção de Catedrais. A Fé como caminho de busca do Sagrado, e a Intuição como leitura de uma Inspiração (para o medieval a intuição não é ciência) e a Teologia como compreensão da existência.
Fazendo um paralelo, o Moderno usa a Universalidade, a Cristandade, e a sua efetuação universal é construir empresas. A Intuição passou a ser a força de uma espiritualidade e transformou a intuição em ciência; a Causalidade (relação que une causa e efeito), e Ciência como compreensão e funcionalidade da existência.
Tanto para o Medieval como para o Moderno, a Teologia é vista como o “experimentum” da fé, mas não é a fé. Nos dois, a Teologia é a tensão entre o ser doutrina e o ser caminho.
O ser medieval, no que se refere à construção de uma identidade teológica, parte da “natura creata” (a contingência e a dependência do ser criatura), do “creatio” (o mundo, a criação, a cosmovisão) e da “fides” (acreditar na existência de Deus). E seu confronto entre doutrina e o Ser que se faz caminho, está na grandiosidade do momento que produz e sofre forte influência das Sumas Teológicas, dos Silogismos, do Voto de Suzerania, do Código da Cavalaria, das Cruzadas e Peregrinações.
O pensar teológico traz a experiência da “filiatio”, a consanguinidade das criaturas. A “natura” é o espaço da salvação, contém por si só todas as promessas da Terra Prometida. A Antiguidade inspira-se na “alethéia”, o Medieval na “natura”, um forte caminho de lembranças. Deus é o “a priori” de todas estas lembranças e experiências.
A força que move os corpos, a vida, a “natura” é Deus. O humano tem que abraçar estas leis e colocá-las a seu serviço. Leis gerais são as condições necessárias dentro das quais se movem as criaturas do universo. Não há senão Deus como a única força para mover os corpos. Qualquer movimento que o corpo faça, ele o faz pela causa divina.
Pode-se dizer que o Sol , com sua potência de energia, é uma causa geral de uma infinidade de bens, mas não tem nenhuma força por si mesmo. A sua única força é Deus. O Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis só pode ser lido e compreendido dentro desta perspectiva. E o humano medieval se coloca diante de uma condição: viver é estar na fidelidade, na lealdade , na obediência de uma causa divina.
Natura e creatio é dizer: creiamos em Deus criando por uma criação contínua. A visão de Deus é esta: “Que nous voyons toutes choses em Dieu”. A ontologia medieval é um aprofundamento do “a priori”. A sua cosmologia é afirmar que a essência de Deus se revela nas coisas criadas.
Conhecer é estar em união com Deus (união mística) e por esta união conhecer e amar todas as coisas criadas. O Ser é o humano em comunhão com o divino. A Cosmologia é a grande reverência à criação. A Teodicéia nasce aqui como a força natural que mostra o divino e o pensamento focado nos atributos de Deus.
Existência e Essência são a mesma coisa em todo ser criado. Como sabemos que uma coisa existe? Através do Ver = o imediato visível. A intuição. A maneira imediata de constatar a existência de tudo aquilo que é. O Tocar: tocar o objeto é um modo de ver. O Ouvir: escutar a fala de todas as coisas. Isto tudo traz a percepção pela mediação. É um caminho de fé subjetiva muito maior que as crenças. Crença é o que os outros ouviram e relataram, fé sou eu mesmo que verifico. Ver, pensar, crer e provar não se separam. É deixar vir as interrogações: Vocês duvidam que existe? Alguém já viu a alma? Existe em nós algo que não é corpo, que não é matéria? O Espírito pode ser uma realidade permanente pensado em nossa identidade e consciência? Como lembramos de fatos passados? Como o nosso hoje é um ontem de lembranças? Porque alguma coisa guardou para nós ou se guardou em nós. A grande questão medieval: como podemos estar certos da existência de Deus?
Teologia e Filosofia medieval sentam-se aos pés uma da outra e escutam-se mutuamente. Tanto a serva filosofia como a serva teologia querem mostrar que Deus é um Ser e uma Essência existencializada. Que Ser?
O Ser Possível = a Essência não inclui uma existência visível. O Ser Necessário = a Essência inclui uma existência. Deus é um Ser que passa da não-existência para a existência. Deus existe por ser o que é! Ele existe pelo fato de ser Deus. Ele é “prius natura” = anterior por natureza. Ele não existia e passa a existir.
Deus é um Ser absolutamente Necessário. É forçoso que exista algo absolutamente necessário. Enquanto a Obra, a Criação, o Mundo existirem, Deus existe necessariamente. A criação (o mundo) é eterna e necessária. A criação só pode provir de Deus que gera este processo necessário. O mundo é causado por Deus!
A Teologia Medieval, que vai gerar uma Teologia Franciscana, inaugura o confronto Fé e Razão. É a Teologia Medieval que traz o conceito da “fides quaerens intellectum”, isto é , a fé que procura compreender; ou o “credo ut intelligam”, creio para compreender. Deus, primeiro você procura e depois você compreende.
Não pode haver um mais ou menos se não houver o Máximo!
“Deus est id quod nihil maius cogitari potest!” Cremos que tu és um Ser do qual não é possível pensar nada maior! Um ser é certamente maior, se pensado na inteligência da realidade do que existente apenas na inteligência. Pensar Deus é pensá-Lo existente na realidade. Não é possível pensar que Deus não existe, nós O pensamos porque Ele existe. Existir na realidade é mais do que existir no pensamento. Quem pensa Deus só pode pensá-lo existente e dizer isto a partir da fé e do coração que crê.
A Filosofia e a Teologia Medieval são meios para assimilar os conteúdos da religião e progredir na fé.
Filósofos judeus também inspiram o pensamento teológico medieval. Ben Joseph (882-942), Ibn Gabriel (1058) e Moisés Maimônides (1135-1204) dizem que não é possível a revelação exata de uma verdade religiosa, e por isso os profetas usam uma linguagem metafórica que nos ajudam a pensar. É preciso perceber o movimento da existência que revela a força de algo ou de Alguém. Tudo o que se move é movido por outro. É o “panta rei” de Heráclito… tudo está na fluência de algo maior.
Se não existisse um Ser Necessário não existiria nada. De Deus nasce a realidade de mundo e o mundo tem evidências para encontrar razões necessárias para a existência de Deus. Nosso ser é dado por Deus. Ele não quis reter nada para si, a sua perfeição está em doar-se.
Fonte:http://www.itf.org.br/algumas-anotacoes-em-torno-de-caracteristicas-da-teologia-medieval-e-seu-pano-de-fundo-para-a-compreensao-de-uma-teologia-franciscana-2.html
Fr. Vitório Mazzuco Filho, OFM.

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