quinta-feira, 24 de abril de 2014

Espírito e natureza na reflexão Teológica atual


Por Josias da Costa Júnior*
Ao propor o título acima, queremos conjugar duas preocupações latejantes: 1) a centralidade que o Espírito Santo deve ocupar na reflexão teológica, tal como acontece nas comunidades de fé; e 2) a atual situação de constante ameaça em que se encontra este planeta. Num campo mais amplo de reflexão, trata-se de estabelecer uma relação entre teologia e ecologia, bem como investigar sobre quais bases há a possibilidade de pensar uma teologia ecológica. Com isso, destacaremos a importância de trazer a pneumatologia e a ecologia para o centro da reflexão teológica e os desafios que se apresentam quando isso se efetiva. Portanto, os objetivos aqui são: pensar uma teologia ecológica, destacar o papel central do Espírito e propor novo eixo interpretativo para a teologia cristã. A ecologia não deve ficar restrita aos grandes círculos de debates acadêmicos ou ao âmbito das políticas partidárias, pois é questão e tarefa de todas as pessoas. Por isso, a articulação entre teologia e ecologia pode ter alcance em variados setores da sociedade, e é possível levantar questões sobre como sensibilizar e desenvolver, por exemplo, uma vida cristã com consciência e sentido de preservação do meio ambiente, a criação de Deus.

1. Desafios e possibilidades da ecologia na reflexão teológica e na prática cristã
 A teologia cristã se propõe a uma visão global da humanidade. Quem se pergunta pelos planos de Deus deve se confrontar com os planos do ser humano. Ao confrontar os planos da humanidade com os planos de Deus, surge a realidade do pecado da humanidade. Não falamos no sentido abstrato, mas daquele pecado que está escrito na história, na realidade concreta, nas estruturas das sociedades. A teologia quer sempre mergulhar nas raízes dos problemas do ser humano. Então, fazer teologia significa fazer uma leitura da realidade à luz da fé; significa, nesse caso, perguntar o que Deus tem que ver com questões ambientais, ecológicas. Nesse sentido, a teologia não pode ficar indiferente aos atuais problemas ecológicos. Na verdade, a tradição cristã já foi duramente criticada e apontada como uma das grandes responsáveis pela crise ecológica atual, pois a interpretação que situou o ser humano como centro dominador da criação povoou o imaginário ocidental.
É preciso uma aproximação diferente do texto sagrado, pois Gênesis 1 apresenta a ideia de Deus como criador e do ser humano como imagem de Deus. Em Gênesis 1,28, o ser humano tem suas atribuições de domínio na criação, mas isso não significa que ele deve ser um senhor prepotente, arrogante: antes, deve ser prudente e amoroso; deve “cultivar” e “guardar” a criação em curso, conforme Gênesis 2,15.
Quanto à ecologia, é mais correto afirmar que ela se apresenta muito mais como desafio do que como objeto da teologia. É importante lembrar que há dois modos de compreensão da ecologia: como crise ambiental e como ciência. Em geral, as pessoas entendem que “ambiental” e “ecológico” são sinônimos. Mas não é demais enfatizar que, na ciência, o ambiental é relativo ao ambiente; já o ecológico é um pensamento científico dentro da biologia, que é outra ciência (cf. Boff, 2004, p. 147). Portanto, há duas posições distintas para compreender a mesma questão: uma é de uso popular, e outra, de uso científico (biologia). Contudo, o campo semântico foi ampliado com os três famosos registros ecológicos: o ambiental, o social e o mental (Guattari, 1990, p. 8).
Sobre a questão da relação entre teologia e ecologia, citaremos duas dificuldades que podem surgir. A primeira é teórica, pois ecologia e Bíblia, ecologia e literatura, ecologia e sociologia, ecologia e ética, ecologia e política revelam áreas de pesquisas diferentes e exigem fundamentações teóricas também diferenciadas, outros meios de aproximação, métodos diversos. Isso significa que, ao nos deter na relação entre teologia e ecologia, está caracterizada a opção por uma linha de pesquisa e, consequentemente, a recusa de outras tantas.
A outra dificuldade é conceitual, pois não é suficiente conceber uma teologia ecológica, uma relação entre teologia e ecologia, apenas conjugando os dois termos, “teologia” e “ecologia”, de modo enunciativo. É necessário repensá-los numa perspectiva crítica. Apenas empregar e/ou reempregar conceitos antigos de “natureza” e “teologia” para o estabelecimento das formas de uma teologia ecológica é ficar no meio do caminho de uma abordagem interdisciplinar e é o mesmo que não fazer teologia ecológica. Entendemos aqui que uma teologia ecológica deve apresentar os termos “teologia” e “ecologia” de tal modo juntos, que forneçam uma perspectiva crítica desde uma avaliação da herança da cultura ocidental e da tradição cristã.
Mesmo com essas dificuldades, brevemente apresentadas acima, lembramos que a teologia cristã reivindica a sua palavra sobre tudo aquilo que envolve o ser humano. Com isso, a ecologia, em seus diferentes modos de entendimento, também se tornou alvo de interesse na reflexão teológica. Na vasta literatura que se pode encontrar em perspectiva ecológica para uma leitura dos vários aspectos da vida, existe uma busca para interpretar o modo mais correto de tratar o meio ambiente ou fazer bom uso da natureza. Isso significa que a ecologia tem servido para interpelar criticamente a postura do homem moderno. Uma crítica que implica questionamento dos pressupostos antropológicos e éticos desse homem moderno, fazendo emergir, assim, a reivindicação de um novo paradigma, isto é, de um novo modelo básico interpretativo da realidade.
Falar da relação entre teologia e ecologia também abre a possibilidade de pôr em relevo a singular importância que a teologia cristã teve na construção do paradigma do homem moderno. Isso significa considerar que a teologia cristã contribuiu de modo positivo e negativo para a formação desse homem moderno, à medida que se observa grande desenvolvimento tecnológico à custa de impiedosa destruição da natureza. Desse modo, a teologia cristã também se tornou alvo das críticas feitas ao relacionamento do homem moderno com seu ambiente. Nesse sentido, a relação entre teologia e ecologia é também uma relação tensa, de interpelação, já que sobre a primeira recai a acusação de pertencer a uma tradição causadora da destruição do meio ambiente.
Mas a relação entre teologia e ecologia deve também provocar uma ampliação do interesse pela questão ambiental. A ecologia já não é apenas tarefa da ciência, ou dos ecologistas, ou dos engenheiros do meio ambiente. Essa abertura significa importante ampliação do tratamento da questão ambiental com uma visão que quer ultrapassar a compreensão reducionista do mundo, quando deste foi extirpada arbitrariamente qualquer dimensão de abertura ao mistério, à afetividade, à transcendência, a Deus. Para a reflexão teológica cristã, é interessante pensar na ecologia como mola que impulsiona a crítica aos pressupostos antropológicos e éticos do homem moderno, uma vez que a crise ecológica interpela os fundamentos da civilização moderna, a saber: a ciência, o individualismo, a autonomia, a industrialização, o consumismo, a técnica, a urbanização. A crítica recai sobre a compreensão do ser humano como medida de todas as coisas, pois isso estabeleceu distanciamento entre o ser humano e a natureza. Essas e outras dificuldades – e também desafios que se interligam, interagem, se completam, no campo teórico e prático – surgem quando se busca relacionar teologia e ecologia; quando se quer entender o significado da fé no Deus criador e deste mundo como criação sua, diante de toda a realidade de exploração industrial desmedida e de constante agressão e destruição da natureza.

2. Deus em toda sua criação: uma compreensão a partir do pensamento processual
 Neste ponto, queremos mostrar que há profundo interesse de Deus em se relacionar com a sua criação. Gênesis 1 afirma que o “Espírito de Deus pairava sobre a face das águas”. Por essa declaração é possível perceber que não há nenhum conflito ou contraposição entre transcendência e imanência, ou entre além e aquém. Pensar na necessidade de compromisso que as comunidades de fé devem ter com as questões ecológicas passa pela compreensão da presença de Deus no mundo e pela fé nessa presença. A teologia do processo ajuda significativamente nessa reflexão entre teologia e ecologia e na relação de Deus com sua criação.
O pensamento do processo se revela contrário às práticas dominantes da vida moderna, além de ser uma alternativa aos dualismos alma e corpo, espírito e natureza, mente e matéria, indivíduo e coletivo. Ter uma fala relevante na situação contemporânea é grande desafio, e a teologia que mais adequadamente se apropriou das contribuições do pensamento do processo é chamada de teologia do processo. Os pensadores do processo estão preocupados em conceber o mundo como um organismo, algo vivo, dinâmico, distanciado de um modo mecânico de ver a realidade. Então, a característica dessa teologia é o processo, isto é, a compreensão de que a realidade não é estática, imóvel, separada e substancial, mas é dinâmica, está em processo. Muito significativo na ideia de organismo é que a existência de cada ente deve ser vista na relação com seu meio ambiente. Seguindo essa linha de pensamento, na perspectiva da fé no Deus criador, a atenção deve se concentrar numa criação que ainda está em processo de se fazer, ou seja, numa natureza plena de energia criativa.
O aspecto descrito acima pode ser chamado de modelo ecológico, pois valoriza uma postura de apreciação de todos os seres vivos numa tentativa de superar o utilitarismo consagrado pelo modelo mecânico, que tem o ser humano como centro e medida de todas as coisas (antropocentrismo). Isso significa alargamento e desejo de mudança: da visão antropocêntrica para a ecológica.
É importante que se diga que o modelo ecológico tem desdobramentos muito significativos, particularmente na doutrina de Deus. No teísmo clássico, Deus se caracteriza como substância imutável, enquanto a teologia do processo o vê como a mais perfeita exemplificação do modelo ecológico. Essa divina perfeição não significa que Deus seja insensível ao sofrimento e à dor da sua criação, mas aberto, receptivo e responsivo. Deus é constituído por relações com toda a sua criação, e essa relação expressa o amor. Deus não está distante, simplesmente observando o sofrimento de sua criação, que é duramente agredida. Também não está indiferente ao grito de dor da criação por causa do ferimento (cf. Romanos 8,22) provocado pela falta de preservação, falta de cultivo do ser humano. Assim, Deus está envolvido amorosamente com e na sua criação. O aspecto que podemos mencionar na questão da imanência de Deus ou da sua necessária relação com o mundo é a busca por uma visão integral de Deus e do mundo. Uma das principais contribuições dos teólogos do processo é apresentar uma visão de Deus verdadeiramente presente na sua criação. “O Espírito do Senhor enche a terra” (Sabedoria 1,7). Deus está no mundo.

3. Ecofeminismo: teologia e ecologia a partir do olhar feminino
 Uma reflexão sobre Deus – e sobre tudo que a ele se relaciona – a partir da visão das mulheres não pode ser ignorada nos dias atuais (reflexão feminista). Quando se trata da experiência que as mulheres têm de Deus e de mundo com o fito de descrever a relação de Deus com o mundo, trata-se de ecofeminismo. A proposta central é redefinir como Deus se relaciona com o mundo. O termo ecofeminismo reúne, portanto, duas preocupações: a ecologia e o feminismo. As ecofeministas afirmam haver estreita ligação entre dominação das mulheres e dominação da natureza (Ruether, 2000, p. 11).
Essa relação entre dominação das mulheres e dominação da natureza acontece no nível simbólico-cultural e socioeconômico. A religião se insere nessa dinâmica da dominação ocidental, pois, especificamente a tradição cristã, exerceu papel determinante nos processos que inferiorizaram as mulheres e a natureza, por meio dos seus padrões simbólico-culturais (Ruether, 2000, p. 12). Diante desse quadro de dominação simbólico-cultural e socioeconômica, as ecofeministas vão afirmar que o relacionamento saudável entre os seres humanos e a terra exige nova espiritualidade e nova cultura simbólica. De igual modo, sugerem que os textos sagrados sobre a criação, o pecado, o mal e a destruição do mundo não foram interpretados de modo a enfocar positivamente a mulher e por isso devem ser relidos e reinterpretados.
É importante o aspecto salientado pelo ecofeminismo relativo à possibilidade de pensar numa vida de relações pessoais mais próximas da natureza e também mais em contato com os sonhos alimentados por diferentes grupos. O ecofeminismo se empenha em pensar uma teologia que tudo relaciona, que respeita e celebra a diversidade, as combinações, conforme está escrito: “Há diversidade de dons da graça, mas o Espírito é o mesmo” (1 Coríntios 12,4). A redução a uma única expressão implica o risco de matar a vida. Além disso, a biodiversidade ou pluralidade vai revelar que o cosmos, a Terra e todos os seres estão em processo, em constante desenvolvimento; é imperioso afirmar uma convivência em meio a tamanha diversificação. A unidade não deve ser pensada como sinônimo de perda de identidade, mas como afirmação dessa identidade (Gebara, 1997, p. 102).
Finalmente, a perspectiva ecofeminista não é fechada, mas aberta ao diálogo, tendo a mulher como interlocutora privilegiada. A articulação do feminismo para pensar a vida e a ecologia “nos abre não só para uma possibilidade real de igualdade entre mulheres e homens, de diferentes culturas, mas para um relacionamento diferente entre nós, com a Terra e com todo o cosmo” (Gebara, 1994, p. 69).

4. As comunidades de fé e a atual questão ecológica
 Os movimentos atuais do Espírito são tão desafiadores para a teologia quanto a atual realidade ecológica. Diante disso, não é possível atender a esses desafios utilizando uma interpretação do tipo normativa. Uma centralidade do Espírito Santo na teologia cristã atual certamente muda o modo de elaborar a teologia e de ler seus temas clássicos, como a eclesiologia e a cristologia, que ocupam o lugar central na interpretação normativa. A teologia ocidental se moveu no interior de um eixo interpretativo eclesiológico-cristológico. Uma interpretação teológica que contemple um novo eixo, que deve emergir do diálogo com os movimentos do Espírito (das comunidades de fé cristã e suas práticas) e da realidade ecológica atual, é o que propomos e chamamos de pneumatológico-ecológica.
Há, em nosso continente, espetacular avanço do movimento carismático e do pentecostalismo, e não faltam interpretações com mediações da sociologia e da antropologia. Essas articulações socioantropológicas sugerem sempre interpretações que associam superprodução simbólica como compensação da real carência econômica na vida das pessoas crentes. A teologia se valeu muito dessa mediação para articular o seu discurso, como ato segundo dessas leituras socioantropológicas. Dessa forma, ela não teve condições de fazer uma leitura teológica desses novos movimentos e perceber sua dinâmica, a riqueza simbólica neles presente e as imagens de Deus que deles emergem. No entanto, foram esses movimentos do Espírito que deflagraram transformações importantes na teologia cristã: “com o ingresso das Igrejas ortodoxas em 1961 e o ingresso, mais tarde, de algumas Igrejas pentecostais no movimento ecumênico, é nesses dois terrenos que estão ocorrendo os avanços na pneumatologia” (Moltmann, 1998, p. 16). Isso ocorre de modo muito mais significativo na América Latina. O fato é que a teologia seguiu o rastro dessas interpretações socioantropológicas e repetiu a ênfase na eclesiologia e na cristologia. Tanto uma quanto outra foram determinantes para a rica e criativa reflexão teológica latino-americana.
Ora, privilegiar a cristologia e a eclesiologia na teologia do nosso continente significa dizer que houve grande preocupação em dialogar com a herança teológica em que prevaleceu o viés hermenêutico cristologia-eclesiologia na reflexão teológica libertadora. Dessa forma, as grandes inovações da teologia latino-americana se deram dentro desse eixo interpretativo. Não obstante a contribuição que a teologia da libertação ofereceu e ainda oferece, é preciso fazer essas constatações críticas quanto aos seus limites. Portanto, é preciso avançar, buscando uma imagem do Espírito Santo plausível para a realidade da América Latina, de tal maneira que a natureza também seja incluída nesse projeto de libertação, visto que o mundo moderno a destrói sem medida e os limites da ação do Espírito Santo não se esgotam no ser humano, mas se estendem a toda a criação.

5. Espírito e natureza: considerações finais
 É interessante refletir sobre os aspectos da fé cristã e da vida na perspectiva da pneumatologia, partindo da experiência e da teologia do Espírito Santo. Partir da experiência significa ultrapassar os limites da teologia da Igreja, que é a “teologia dos pastores e dos padres” (Moltmann, 1998, p. 29). Partir da experiência, então, significa fazer “teologia de leigos”, e isso implica privilegiar e ampliar os espaços onde a vida se faz e se refaz, se produz e se reproduz, o que equivale a estender os espaços de comunhão com o Espírito.
A teologia se mostra atual quando vai além dos métodos que circunscrevem a ação do Espírito nos limitantes espaços eclesiásticos – porquanto enfatizam a relação entre pneumatologia e eclesiologia – ou entendem a ação do Espírito apenas como uma confirmação totalmente subjetiva do processo revelador objetivo de Jesus, à medida que sublinham a relação subserviente da pneumatologia para com a cristologia. Contudo, o Espírito vivificante sopra onde quer (João 3,8).
A teologia deve ser articulada de modo dialogal e inclusivo, atentando também para os problemas sociais, étnicos, políticos e ecológicos. Quando a teologia falar de salvação, deverá relacioná-la com a vida eterna e com a cura nesta vida oprimida, doente e pobre. Com isso, a salvação não deve significar instâncias separadas entre além e aquém. “‘Além’ e ‘aquém’ não mais são níveis diferentes do ser na terra e no céu, mas diferentes épocas do mundo do único processo de redenção. Os tempos presente e futuro estão imbricados um no outro pericoreticamente como antecipação e plenificação” (Moltmann, 2004, p. 205).
O outro elemento do eixo interpretativo que temos sugerido é a ecologia. A reflexão sobre Deus, e sobre tudo que a ele se relaciona, deve ser total, de tal modo que celebre a vida inteira (humana e não humana). O ser humano não é o dominador e o centro da criação, mas tem a tarefa de cuidar da criação, guardá-la (Gênesis 2,15) e desenvolver uma relação harmônica com a “mãe-terra (‘adamah)” (Reimer, 2006, p. 14). Por isso, insistimos que a teologia latino-americana não deve se esquivar dos problemas ecológicos, como se isso não fizesse parte de nossa realidade.
A história dos primeiros habitantes do nosso continente revela uma herança de relação de respeito à natureza que, de algum modo, precisa ser resgatada. Respeitar a criação é respeitar a vida. Não se podem negligenciar certos carismas no dia a dia do mundo, no movimento ecológico, nos processos de afirmação da vida. As questões ecológicas aqui estão ligadas à questão da qualidade da vida, particularmente dos seres mais frágeis e das pessoas mais pobres em suas precárias condições de existência. Por isso, a experiência carismática do Espírito de Deus não deve ser despolitizada, tampouco despolitizante, pois o Espírito Santo é fonte de energia, fonte da vida, de toda a vida.
Finalizamos aqui estas observações introdutórias sobre a preocupação principal da teologia hoje. O Espírito na vida das comunidades cristãs em nosso continente ocupa lugar central, e assim será nos próximos anos da história da Igreja. De igual modo, a questão ecológica se fará presente na reflexão teológica e também nas práticas de fé.
fonte: http://vidapastoral.com.br/artigos/temas-teologicos/espirito-e-natureza-na-reflexao-teologica-atual/
 * Doutor em Teologia (PUC-Rio) e professor no Instituto Metodista Bennett (RJ).
BIBLIOGRAFIA

BINGEMER, Maria Clara. Teologia e espiritualidade. Uma leitura teológico-espiritual a partir da realidade do movimento ecológico e feminista. Cadernos de Teologia Pública, São Leopoldo: Unisinos, ano 1, n. 2, 2004.
BOFF, Leonardo. Ecologia: grito da terra, grito dos pobres. Rio Janeiro: Sextante, 2004.
COMBLIN, José. O tempo da ação: ensaio sobre o Espírito e a história. Petrópolis: Vozes, 1982.
GEBARA, Ivone. Teologia ecofeminista: ensaio para repensar o conhecimento e a religião. São Paulo: Olho d’Água, 1997.
______. Trindade, palavra sobre coisas velhas e novas: uma perspectiva ecofeminista. São Paulo: Paulinas, 1994.
GUATTARI, Félix. As três ecologias. Campinas: Papirus, 1990.
MOLTMANN, Jürgen. Experiências de reflexão teológica: caminhos e formas da teologia cristã. São Leopoldo: Unisinos, 2004.
______. O Espírito da vida: por uma pneumatologia integral. Petrópolis: Vozes, 1998.
REIMER, Haroldo. Toda a criação: ensaios de Bíblia e ecologia. São Leopoldo: Oikos, 2006.
RUETHER, Rosemary Radford. Ecofeminismo: mulheres do Primeiro e Terceiro Mundos. Mandrágora: Ecofeminismo: tendências e debates, São Paulo, ano 6, n. 6, 2000.

quinta-feira, 3 de abril de 2014

Quaresma: seguindo as pegadas do senhor, caminhemos para a Páscoa!

Por Maria de Lourdes Zavarez
Marcada por significativas celebrações, a Quaresma nos permite refazer a peregrinação pascal de Jesus. Descortina um caminho espiritual em que retomamos o nosso batismo, rumo à Páscoa, ponto alto do ano litúrgico, mistério fundamental de nossa fé. Cada celebração, neste tempo, deve ser forte experiência de êxodo, de passagem da escravidão para a liberdade, do individualismo para a solidariedade.
“Nada é mais alto do que o abaixamento da cruz, porque lá se atinge verdadeiramente a altura do amor.”
(Papa Francisco, mensagem aos bispos brasileiros durante a JMJ, 2013) 

1. Quaresma: caminho catecumenal, de conversão e de reconciliação, rumo à Páscoa

Como sinal sacramental da salvação, a Quaresma abre progressivamente o ciclo pascal e, cada ano, descortina-nos um caminho espiritual em que retomamos nosso batismo, rumo à Páscoa, ponto alto do ano litúrgico, mistério fundamental de nossa fé, cuja expressão máxima é a Vigília Pascal. A Quaresma começa na quarta-feira de Cinzas e vai até a manhã da quinta-feira santa, com a celebração da bênção dos santos óleos. A celebração do domingo de Ramos abre a Semana Santa. A Páscoa da Ceia na quinta-feira santa, à noite, dá início ao solene Tríduo Pascal.
Durante 40 dias, a Quaresma nos encaminha para a Páscoa, ajudando-nos a reviver a experiência do povo de Deus, que amadureceu sua fé na travessia do deserto, e a experiência de Jesus, que, após intenso tempo de oração e jejum no deserto, assume sua missão com solidária e total entrega.
 Neste “tempo favorável” de busca e aprofundamento de nossa vocação de discípulos/as missionários/as de Cristo, assumimos percorrer, com ele, o caminho que passa necessariamente pelas mais diversas tensões e tentações, caminho de total doação até a cruz, em fidelidade ao projeto do Pai. A cada passo, vamos recebendo o vigor, a iluminação, a ternura e a alegria do seu Espírito para proclamarmos a vitória da vida, com o dom cotidiano de nossa vida aos irmãos, enquanto lutamos contra todas as formas de idolatria, violência, exploração, injustiça e morte que, dolorosamente, persistem em nosso mundo, dominam, escravizam e degradam nossa condição humana frágil e pecadora.
Marcada por significativas celebrações, a Quaresma nos permite refazer a peregrinação pascal de Jesus. Cada celebração, neste tempo, deve ser forte experiência de êxodo, de passagem da escravidão para a liberdade, do individualismo para a solidariedade, do comodismo para a militância, da morte para a vida, para que possamos fazer de nossa vida uma Páscoa contínua:
- na quarta-feira de Cinzas, abrindo-nos para sincera conversão e maior adesão ao evangelho com a imposição das cinzas;
- nos cinco domingos da Quaresma, sustentando-nos e conduzindo-nos progressivamente na caminhada até a Páscoa;
- no domingo de Ramos, início da Semana Santa, fazendo-nos participantes do despojamento e da glorificação de Cristo;
- na quinta-feira santa de manhã, fechando a Quaresma com as bênçãos dos santos óleos.
Em adição a isso, há ainda celebrações penitenciais, vias-sacras, ofício divino, retiros espirituais e outras expressões celebrativas, muito abundantes neste tempo, reavivando a mística pascal das comunidades.
Caminho de renovação batismal: A Quaresma é originalmente, e por excelência, um tempo batismal. A liturgia da Palavra da Quaresma do Ano A constitui valioso itinerário de fé e de adesão crescente, consciente e livre à proposta de Jesus, seja do ponto de vista dos textos bíblicos, seja do ponto de vista dos textos dos prefácios, afinados com o evangelho de cada domingo, em vista da preparação dos catecúmenos para o batismo e de toda a Igreja para a renovação da consagração batismal na Vigília Pascal.
Nos dois primeiros domingos, apresenta-se Jesus como aquele que toma o caminho do deserto, onde vence as tentações do “ter”, do “poder” e da “fama” e, sustentado pela palavra da Escritura, opta decididamente pela vontade do Pai. Por isso, é glorificado, transfigurado por Deus no Tabor (na versão de Mt) antes mesmo de enfrentar a “hora das trevas”. Entramos com ele na grande travessia pascal, encontrando nele a força para passarmos pelas dificuldades e contradições da vida, transfigurando-as, acolhendo o sentido que elas oferecem como realização da aliança com nosso Deus.
Nos outros três domingos, acolhemos as grandes “catequeses batismais” de João e seus respectivos símbolos (caps. 4, 9 e 11):
a) No terceiro domingo, na companhia da samaritana, discriminada por causa de preconceitos de religião, de raça e de gênero, fazemos a experiência de um encontro íntimo e transformador com o Senhor. Ele nos oferece a água da vida que sacia nossa sede e nos faz filhos e filhas de Deus, pelo batismo. Somos convidados a vencer todos os tipos de discriminação, dar um passo novo no seguimento de Jesus, renovando nossa consagração batismal, e com ele oferecer ao Pai o culto filial em espírito e verdade.
b) Com o cego de nascença no quarto domingo, entramos em nossa própria escuridão e na escuridão do mundo que nos envolve para podermos experimentar a claridade da luz que nos vem de Jesus. Com nossos olhos ungidos e abertos, livres de nossa cegueira original, renovamos nosso empenho de viver como filhos e filhas da luz, vencendo, particularmente, a cegueira que nos impede de reconhecê-lo nos irmãos, sobretudo nos mais pobres, discriminados e excluídos, tanto pela sociedade como pela Igreja. Neste domingo da alegria (Laetare), somos animados a abandonar qualquer atitude de tristeza e desânimo para acolher a alegria e a consolação que o amor misericordioso de Deus nos oferece e nos propõe testemunhar.
c) No quinto domingo, lembrando a experiência de Lázaro, somos chamados a sair de nossos túmulos e do grande túmulo da iniquidade que devora nossas esperanças como povo, gerando desigualdades e escandalosa divisão entre cidadãos e “sobrantes e descartáveis”. Escutamos a voz do Senhor, que dá vida aos ossos ressequidos e nos convida a desatar as amarras e ataduras que nos impedem de caminhar e viver com dignidade, a nós e a tantos irmãos/ãs. Livres e desarmados de tudo o que nos prende, continuamos a aprofundar nossa vivência batismal. Com Marta e Maria, professamos nossa fé em Jesus, ressurreição e vida, para que, ressuscitados e em comunhão com ele, caminhemos para o Pai, levando transformadas toda a criação e toda a história.
Cada um desses aspectos do mistério que celebramos em cada domingo caracteriza toda a sequência ritual do dia e prepara mais diretamente para o batismo ou para a renovação das promessas na Vigília Pascal. As primeiras leituras, com textos do AT, narram fatos significativos da história da aliança de Deus com a humanidade e suas relativas exigências atuais para a vida da comunidade cristã (pecado dos primeiros pais, vocação de Abraão e Sara, Moisés e a água da rocha, Davi e a visão dos ossos em Ezequiel), formando um todo catequético. Com textos de grande valor teológico das cartas de Paulo, as segundas leituras também apresentam ligação com as primeiras leituras, os salmos e os evangelhos.
d) No domingo de Ramos e da Paixão, iniciamos, com toda a Igreja, a Semana Santa. Recordamos a entrada de Cristo em Jerusalém para realizar a entrega de sua vida pela morte de cruz, fiel ao projeto do Reino. Com o povo da primeira aliança, que, durante a festa das Tendas, levava ramos nas mãos, significando a esperança messiânica, nós também, seguindo os passos de Jesus, renovamos nossa adesão ao seu projeto e, com nossos ramos nas mãos, o aclamamos Senhor da vida e da história. Escutando a narrativa da Paixão conforme a comunidade de Mateus e participando da liturgia da Paixão do Senhor, deixamos que o mistério pascal da paixão, morte e ressurreição de Jesus se realize mais intensamente em nossa vida.
Caminho de conversão e reconciliação: A Quaresma, no seu conjunto ritual, é um grande sacramento de conversão e reconciliação, mediante o qual participamos na fé do mistério de Cristo, que, vencendo as tentações, escolhe a atitude da compaixão e do amor incondicional, como servo humilde e sofredor, até a cruz. Mais do que uma preparação penitencial da Páscoa, a Quaresma constitui um ensaio da vida nova no Espírito, pelo qual toda a Igreja é convocada a deixar-se “purificar do velho fermento para ser uma massa nova, levedada pela verdade” (cf. 1Cor 5,7-8).
Tomando uma atitude contra o consumismo, o “jejum” como autodomínio sobre nossa alimentação, nossas palavras, nossos sentimentos, nossos atos, ouvindo e acolhendo sua Palavra sempre viva e eficaz, dedicando mais tempo à oração, vamos fortalecendo as razões de nossa esperança e, assumindo a prática do perdão, da justiça, da misericórdia, da solidariedade, o verdadeiro e mais agradável jejum: “desatar os laços da maldade, desamarrar as correias do jugo, dar liberdade aos encurvados…” (cf. Is 58,6-7), como compromisso de “volta ao primeiro amor” (Ap 2,4), selado na fonte batismal.
Nossa vida torna-se, então, uma oferta de louvor, um sacrifício espiritual que apresentamos continuamente ao Pai, em união com Jesus, o servo sofredor e pobre.
 Conversão para a fraternidade: O Concílio Vaticano II recorda que “a penitência quaresmal não deve ser apenas interna e individual, mas também externa e social” (SC 110). Esta exigência, como passo fundamental na caminhada pascal, é assumida por nós na Campanha da Fraternidade, que sempre nos pede conversão e solidariedade em situações bem concretas de nossa realidade, ainda marcada por extremado individualismo, por competição desmedida, pela “tirania do dinheiro”, pelo “capitalismo selvagem” e pela “globalização da indiferença”, como nos alerta continuamente o papa Francisco. Neste ano, preparando-nos para a Páscoa, numa busca de coerência evangélica, a Igreja nos convida a pôr a fraternidade a serviço do combate ao tráfico de pessoas, com o lema inspirado na carta aos Gálatas, 5,1: “É para a liberdade que Cristo nos libertou”. Ações coletivas e concretas são necessárias para que esse mal seja extirpado de nosso mundo. A CF ilumina de modo particular os gestos fundamentais deste tempo litúrgico: a oração, o jejum e a misericórdia. “Nem a noite nos interrompa na prática da misericórdia!” (S. Gregório Nazianzeno).
            Como sacramento pascal, a Quaresma nos chama à reconciliação e à mudança de vida, assumindo a busca da humanidade inteira por libertação, justiça, dignidade, reconciliação e paz. Alargamos ecumenicamente o coração, trazendo a Deus o clamor sempre mais forte do universo, que anseia por vida e liberdade, aguardando a plena manifestação dos filhos e filhas de Deus.
 2. Alguns lembretes e sugestões para as equipes de celebração
            a) Levando em conta a espiritualidade quaresmal, preparar o espaço celebrativo de acordo com certa sobriedade: cor roxa, sem flores (a não ser no 4º domingo, conhecido na tradição da Igreja latina como domingo da alegria, pela aproximação da festa pascal, e no domingo de Ramos, com a cor vermelha indicativa do amor doado até o martírio). Como sinal de nossa abertura para o essencial, manter no ambiente um vazio necessário, despojado de enfeites e ornamentos supérfluos como cartazes, faixas, fitas, excesso de folhagens. Destacar apenas o altar, a mesa da Palavra, a cadeira de quem preside e a fonte batismal. Também silenciamos o canto do glória e do aleluia para retomá-los, exultantes, no início do Tríduo Pascal (Páscoa da Ceia, na quinta-feira santa) e na solene Vigília Pascal. Os instrumentos musicais se reservam apenas para o acompanhamento discreto dos cantos litúrgicos. O cartaz com o tema e o lema da CF-2014 poderá ser ampliado e colocado na entrada da igreja ou em lugar onde possa ser bem visualizado. Não é aconselhável fixá-lo no altar ou na mesa da Palavra.
            b) A cruz também ganha destaque, podendo ser trazida na procissão de entrada, ser incensada em cada celebração e durante a Quaresma, com algum símbolo ligado à realidade ou sugerido pelo evangelho do dia.
            c) Uma acolhida pessoal e amorosa seja feita a cada pessoa, e o abraço da paz seja um gesto intensamente vivido em cada celebração, especialmente com o sentido de perdão ou reconciliação fraterna.
            d) O ato penitencial poderá receber também um destaque maior como anúncio da misericórdia de Deus e de apelo à conversão, ligado com a realidade da comunidade e com a situação que nos torna responsáveis também pelo crime do tráfico de pessoas. É bom oferecer um tempo considerável para exame de consciência e usar gestos, como ajoelhar-se ou inclinar-se, ou o rito de aspersão, acompanhado de refrãos ou cantos apropriados. Nas celebrações da Palavra ou mesmo nas celebrações eucarísticas, o ato penitencial, em alguns domingos, poderá ser feito após a homilia, como resposta à interpelação que a Palavra de Deus nos faz.
e) Sugestão da bênção e aspersão com água para o tempo da Quaresma, sobretudo no terceiro domingo:
Quem preside põe-se de pé diante da fonte batismal ou bacia com água preparada junto à cruz e reza:
 Ó Deus, fonte da vida, nós te bendizemos por esta água que criaste para fecundar a terra e para manter viva a tua criação. Que ela seja sinal da tua compaixão e do teu amor que se derrama sobre nós para chegarmos renovados à festa da Páscoa.
Que nossa conversão se manifeste no cuidado pelas pessoas, no respeito pela sua dignidade e pelo seu direito à liberdade. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.
 Segue a aspersão com água e um canto apropriado, por exemplo: “Lavai-me, Senhor, lavai-me…” (CNBB, Hinário Litúrgico, fasc. 3, p. 88-89); “Aspergi-me, Senhor…” (H3, p. 87).
f) Destacar a dimensão batismal, origem da própria Quaresma, como itinerário de fé e de adesão crescente ao projeto de Jesus. Nesse sentido, é desejável fazer dela um tempo de catecumenato, isto é, de preparação para os sacramentos da iniciação cristã (batismo, confirmação e eucaristia) que marcam a entrada de novos membros na comunidade. Os diversos domingos são associados com as várias etapas de preparação. O primeiro domingo é consagrado à apresentação e acolhimento dos candidatos/as para os sacramentos. O terceiro, quarto e quinto domingos são dedicados a abençoar os catecúmenos e invocar a força amorosa de Deus sobre eles, para que sejam libertados de todo o mal, como também a entregar-lhes o credo, os evangelhos e a oração do Senhor (o Pai-Nosso). (Há sugestões no Ritual de Iniciação Cristã de Adultos, p. 64-67, ou em CARPANEDO, P. e GUIMARÃES, M. Dia do Senhor, ciclo pascal, Apostolado Litúrgico, p. 52-53.) Mesmo onde não houver batismo na noite pascal, a retomada do espírito do catecumenato pode contribuir para que as comunidades, neste tempo, revigorem sua consagração batismal.
g) É importante que as homilias não percam sua dimensão orante, dialogal, mistagógica e profética, evitando um discurso racional, moralista ou apenas temático, que possa abafar a proposta pedagógica da Quaresma. Partindo sempre dos textos bíblicos, fazer a ligação com o tema da CF, com a vida da comunidade e com a própria celebração, momento em que a Palavra do Senhor se realiza como acontecimento pascal.
h) Os cantos da Quaresma devem nos ajudar a contemplar e viver o mistério pascal do Cristo em nossa realidade. O Hinário Litúrgico 2 da CNBB e o Ofício Divino das Comunidades oferecem cantos bem apropriados para a liturgia, sobretudo para os salmos, a louvação quaresmal (uma versão cantada do prefácio), o rito de aspersão, o rito penitencial e também para outros tipos de celebrações próprias para este tempo, como via-sacra, celebração penitencial, retiros espirituais etc. O hino da CF seja entoado no final da celebração, como rito de envio em missão, e a oração da CF tem seu lugar mais indicado durante a oração dos fiéis.
i) É bom que, a cada domingo, a comunidade celebrante leve um compromisso bem concreto, brotado da celebração e proposto no final da homilia, para ser vivido durante a semana. E, no domingo seguinte, seja retomado no início da celebração como sinal de vida e conversão ou como motivo para pedir perdão. Assim, a Quaresma será um caminhar pascal comunitário, progressivo e amoroso das trevas para a luz, da morte para a vida, da escravidão para a liberdade dos filhos de Deus. Cuidar para que esse compromisso leve a comunidade a gestos concretos em relação à realidade iníqua do tráfico de pessoas.
j) Entre as várias orações eucarísticas, aproveitar as da Reconciliação I e II, muito adequadas para o tempo quaresmal, assim como os prefácios próprios (p. 414-418).
k) Para a bênção final, o Missal Romano sugere, na página 531, várias “Orações sobre o povo”, acompanhadas pelo gesto de inclinar-se para receber a bênção. Seria bom aproveitá-las, assim como as orações de bênçãos próprias para a Quaresma (p. 521-522).
l) Toda esta vivência quaresmal só terá sentido se aparecer claramente como preparação para a Páscoa, que terá sua culminância com as celebrações do Tríduo Pascal e, sobretudo, com a Vigília Pascal, a “mãe de todas as vigílias”. Esta, por ser tão importante, merece ser cuidadosamente preparada para que a Páscoa do ano de 2014 seja profundamente vivida pela comunidade, como festa verdadeira e acontecimento inesquecível!
 “Celebremos a Páscoa não com o velho fermento, nem com o fermento da malícia e da perversidade, mas com os pães sem fermento, isto é, na pureza e na verdade” (1Cor 5,8).
 “Tudo quanto o Filho de Deus fez e ensinou para a reconciliação do mundo, podemos saber não apenas pela história do passado, mas experimentando-a na eficácia do que ele realiza no presente. (…) É nisso que consiste celebrar a Páscoa do Senhor com os ázimos da sinceridade e da verdade: tendo rejeitado o fermento da antiga malícia, a nova criatura se inebria e se alimenta do próprio Senhor” (Leão Magno, Sermão 12).

Faço a suposição de que as aspas abrem aqui por causa do parênteses indicativo de quebra de citação (…). Contudo, se não forem palavras literais de Leão Magno, mas uma espécie de paráfrase, seria melhor mesmo deixar sem aspas e inserir um “cf.” antes do nome, para indicar que se trata de uma ideia dele, embora não com as mesmas palavras.
fonte:http://vidapastoral.com.br/artigos/liturgia/quaresma-seguindo-as-pegadas-do-senhor-caminhemos-para-a-pascoa/

Maria de Lourdes Zavarez

Leiga, agente de pastoral com mestrado em Liturgia, membro da equipe nacional de articulação da Celebra – Rede de Animação Litúrgica; coordena o Curso de Pós-Graduação em Liturgia promovido pela Rede Celebra e pela Ifiteg em Goiânia, no qual também leciona; é professora do Curso de Atualização em Liturgia em SP, promovido pelo Centro de Liturgia D. Clemente Isnard em parceria com a Unisal. Colabora com a CNBB em publicações sobre liturgia.
E-mail: lourdeszavarez@redecelebra.com.br