Por Josias da Costa Júnior*
Ao propor o título acima, queremos
conjugar duas preocupações latejantes: 1) a centralidade que o Espírito
Santo deve ocupar na reflexão teológica, tal como acontece nas
comunidades de fé; e 2) a atual situação de constante ameaça em que se
encontra este planeta. Num campo mais amplo de reflexão, trata-se de
estabelecer uma relação entre teologia e ecologia, bem como investigar
sobre quais bases há a possibilidade de pensar uma teologia ecológica.
Com isso, destacaremos a importância de trazer a pneumatologia e a
ecologia para o centro da reflexão teológica e os desafios que se
apresentam quando isso se efetiva. Portanto, os objetivos aqui são:
pensar uma teologia ecológica, destacar o papel central do Espírito e
propor novo eixo interpretativo para a teologia cristã. A ecologia não
deve ficar restrita aos grandes círculos de debates acadêmicos ou ao
âmbito das políticas partidárias, pois é questão e tarefa de todas as
pessoas. Por isso, a articulação entre teologia e ecologia pode ter
alcance em variados setores da sociedade, e é possível levantar questões
sobre como sensibilizar e desenvolver, por exemplo, uma vida cristã com
consciência e sentido de preservação do meio ambiente, a criação de
Deus.
1. Desafios e possibilidades da ecologia na reflexão teológica e na prática cristã
A teologia cristã se propõe a uma visão
global da humanidade. Quem se pergunta pelos planos de Deus deve se
confrontar com os planos do ser humano. Ao confrontar os planos da
humanidade com os planos de Deus, surge a realidade do pecado da
humanidade. Não falamos no sentido abstrato, mas daquele pecado que está
escrito na história, na realidade concreta, nas estruturas das
sociedades. A teologia quer sempre mergulhar nas raízes dos problemas do
ser humano. Então, fazer teologia significa fazer uma leitura da
realidade à luz da fé; significa, nesse caso, perguntar o que Deus tem
que ver com questões ambientais, ecológicas. Nesse sentido, a teologia
não pode ficar indiferente aos atuais problemas ecológicos. Na verdade, a
tradição cristã já foi duramente criticada e apontada como uma das
grandes responsáveis pela crise ecológica atual, pois a interpretação
que situou o ser humano como centro dominador da criação povoou o
imaginário ocidental.
É preciso uma aproximação diferente do texto
sagrado, pois Gênesis 1 apresenta a ideia de Deus como criador e do ser
humano como imagem de Deus. Em Gênesis 1,28, o ser humano tem suas
atribuições de domínio na criação, mas isso não significa que ele deve
ser um senhor prepotente, arrogante: antes, deve ser prudente e amoroso;
deve “cultivar” e “guardar” a criação em curso, conforme Gênesis 2,15.
Quanto à ecologia, é mais correto afirmar
que ela se apresenta muito mais como desafio do que como objeto da
teologia. É importante lembrar que há dois modos de compreensão da
ecologia: como crise ambiental e como ciência. Em geral, as pessoas
entendem que “ambiental” e “ecológico” são sinônimos. Mas não é demais
enfatizar que, na ciência, o ambiental é relativo ao ambiente; já o
ecológico é um pensamento científico dentro da biologia, que é outra
ciência (cf. Boff, 2004, p. 147). Portanto, há duas posições distintas
para compreender a mesma questão: uma é de uso popular, e outra, de uso
científico (biologia). Contudo, o campo semântico foi ampliado com os
três famosos registros ecológicos: o ambiental, o social e o mental
(Guattari, 1990, p. 8).
Sobre a questão da relação entre teologia e
ecologia, citaremos duas dificuldades que podem surgir. A primeira é
teórica, pois ecologia e Bíblia, ecologia e literatura, ecologia e
sociologia, ecologia e ética, ecologia e política revelam áreas de
pesquisas diferentes e exigem fundamentações teóricas também
diferenciadas, outros meios de aproximação, métodos diversos. Isso
significa que, ao nos deter na relação entre teologia e ecologia, está
caracterizada a opção por uma linha de pesquisa e, consequentemente, a
recusa de outras tantas.
A outra dificuldade é conceitual, pois não é
suficiente conceber uma teologia ecológica, uma relação entre teologia e
ecologia, apenas conjugando os dois termos, “teologia” e “ecologia”, de
modo enunciativo. É necessário repensá-los numa perspectiva crítica.
Apenas empregar e/ou reempregar conceitos antigos de “natureza” e
“teologia” para o estabelecimento das formas de uma teologia ecológica é
ficar no meio do caminho de uma abordagem interdisciplinar e é o mesmo
que não fazer teologia ecológica. Entendemos aqui que uma teologia
ecológica deve apresentar os termos “teologia” e “ecologia” de tal modo
juntos, que forneçam uma perspectiva crítica desde uma avaliação da
herança da cultura ocidental e da tradição cristã.
Mesmo com essas dificuldades, brevemente
apresentadas acima, lembramos que a teologia cristã reivindica a sua
palavra sobre tudo aquilo que envolve o ser humano. Com isso, a
ecologia, em seus diferentes modos de entendimento, também se tornou
alvo de interesse na reflexão teológica. Na vasta literatura que se pode
encontrar em perspectiva ecológica para uma leitura dos vários aspectos
da vida, existe uma busca para interpretar o modo mais correto de
tratar o meio ambiente ou fazer bom uso da natureza. Isso significa que a
ecologia tem servido para interpelar criticamente a postura do homem
moderno. Uma crítica que implica questionamento dos pressupostos
antropológicos e éticos desse homem moderno, fazendo emergir, assim, a
reivindicação de um novo paradigma, isto é, de um novo modelo básico
interpretativo da realidade.
Falar da relação entre teologia e ecologia
também abre a possibilidade de pôr em relevo a singular importância que a
teologia cristã teve na construção do paradigma do homem moderno. Isso
significa considerar que a teologia cristã contribuiu de modo positivo e
negativo para a formação desse homem moderno, à medida que se observa
grande desenvolvimento tecnológico à custa de impiedosa destruição da
natureza. Desse modo, a teologia cristã também se tornou alvo das
críticas feitas ao relacionamento do homem moderno com seu ambiente.
Nesse sentido, a relação entre teologia e ecologia é também uma relação
tensa, de interpelação, já que sobre a primeira recai a acusação de
pertencer a uma tradição causadora da destruição do meio ambiente.
Mas a relação entre teologia e ecologia deve
também provocar uma ampliação do interesse pela questão ambiental. A
ecologia já não é apenas tarefa da ciência, ou dos ecologistas, ou dos
engenheiros do meio ambiente. Essa abertura significa importante
ampliação do tratamento da questão ambiental com uma visão que quer
ultrapassar a compreensão reducionista do mundo, quando deste foi
extirpada arbitrariamente qualquer dimensão de abertura ao mistério, à
afetividade, à transcendência, a Deus. Para a reflexão teológica cristã,
é interessante pensar na ecologia como mola que impulsiona a crítica
aos pressupostos antropológicos e éticos do homem moderno, uma vez que a
crise ecológica interpela os fundamentos da civilização moderna, a
saber: a ciência, o individualismo, a autonomia, a industrialização, o
consumismo, a técnica, a urbanização. A crítica recai sobre a
compreensão do ser humano como medida de todas as coisas, pois isso
estabeleceu distanciamento entre o ser humano e a natureza. Essas e
outras dificuldades – e também desafios que se interligam, interagem, se
completam, no campo teórico e prático – surgem quando se busca
relacionar teologia e ecologia; quando se quer entender o significado da
fé no Deus criador e deste mundo como criação sua, diante de toda a
realidade de exploração industrial desmedida e de constante agressão e
destruição da natureza.
2. Deus em toda sua criação: uma compreensão a partir do pensamento processual
Neste ponto, queremos mostrar que há
profundo interesse de Deus em se relacionar com a sua criação. Gênesis 1
afirma que o “Espírito de Deus pairava sobre a face das águas”. Por
essa declaração é possível perceber que não há nenhum conflito ou
contraposição entre transcendência e imanência, ou entre além e aquém.
Pensar na necessidade de compromisso que as comunidades de fé devem ter
com as questões ecológicas passa pela compreensão da presença de Deus no
mundo e pela fé nessa presença. A teologia do processo ajuda
significativamente nessa reflexão entre teologia e ecologia e na relação
de Deus com sua criação.
O pensamento do processo se revela contrário
às práticas dominantes da vida moderna, além de ser uma alternativa aos
dualismos alma e corpo, espírito e natureza, mente e matéria, indivíduo
e coletivo. Ter uma fala relevante na situação contemporânea é grande
desafio, e a teologia que mais adequadamente se apropriou das
contribuições do pensamento do processo é chamada de teologia do
processo. Os pensadores do processo estão preocupados em conceber o
mundo como um organismo, algo vivo, dinâmico, distanciado de um modo
mecânico de ver a realidade. Então, a característica dessa teologia é o
processo, isto é, a compreensão de que a realidade não é estática,
imóvel, separada e substancial, mas é dinâmica, está em processo. Muito
significativo na ideia de organismo é que a existência de cada ente deve
ser vista na relação com seu meio ambiente. Seguindo essa linha de
pensamento, na perspectiva da fé no Deus criador, a atenção deve se
concentrar numa criação que ainda está em processo de se fazer, ou seja,
numa natureza plena de energia criativa.
O aspecto descrito acima pode ser chamado de
modelo ecológico, pois valoriza uma postura de apreciação de todos os
seres vivos numa tentativa de superar o utilitarismo consagrado pelo
modelo mecânico, que tem o ser humano como centro e medida de todas as
coisas (antropocentrismo). Isso significa alargamento e desejo de
mudança: da visão antropocêntrica para a ecológica.
É importante que se diga que o modelo
ecológico tem desdobramentos muito significativos, particularmente na
doutrina de Deus. No teísmo clássico, Deus se caracteriza como
substância imutável, enquanto a teologia do processo o vê como a mais
perfeita exemplificação do modelo ecológico. Essa divina perfeição não
significa que Deus seja insensível ao sofrimento e à dor da sua criação,
mas aberto, receptivo e responsivo. Deus é constituído por relações com
toda a sua criação, e essa relação expressa o amor. Deus não está
distante, simplesmente observando o sofrimento de sua criação, que é
duramente agredida. Também não está indiferente ao grito de dor da
criação por causa do ferimento (cf. Romanos 8,22) provocado pela falta
de preservação, falta de cultivo do ser humano. Assim, Deus está
envolvido amorosamente com e na sua criação. O aspecto
que podemos mencionar na questão da imanência de Deus ou da sua
necessária relação com o mundo é a busca por uma visão integral de Deus e
do mundo. Uma das principais contribuições dos teólogos do processo é
apresentar uma visão de Deus verdadeiramente presente na sua criação. “O
Espírito do Senhor enche a terra” (Sabedoria 1,7). Deus está no mundo.
3. Ecofeminismo: teologia e ecologia a partir do olhar feminino
Uma reflexão sobre Deus – e sobre tudo que a
ele se relaciona – a partir da visão das mulheres não pode ser ignorada
nos dias atuais (reflexão feminista). Quando se trata da experiência
que as mulheres têm de Deus e de mundo com o fito de descrever a relação
de Deus com o mundo, trata-se de ecofeminismo. A proposta central é
redefinir como Deus se relaciona com o mundo. O termo ecofeminismo
reúne, portanto, duas preocupações: a ecologia e o feminismo. As
ecofeministas afirmam haver estreita ligação entre dominação das
mulheres e dominação da natureza (Ruether, 2000, p. 11).
Essa relação entre dominação das mulheres e
dominação da natureza acontece no nível simbólico-cultural e
socioeconômico. A religião se insere nessa dinâmica da dominação
ocidental, pois, especificamente a tradição cristã, exerceu papel
determinante nos processos que inferiorizaram as mulheres e a natureza,
por meio dos seus padrões simbólico-culturais (Ruether, 2000, p. 12).
Diante desse quadro de dominação simbólico-cultural e socioeconômica, as
ecofeministas vão afirmar que o relacionamento saudável entre os seres
humanos e a terra exige nova espiritualidade e nova cultura simbólica.
De igual modo, sugerem que os textos sagrados sobre a criação, o pecado,
o mal e a destruição do mundo não foram interpretados de modo a enfocar
positivamente a mulher e por isso devem ser relidos e reinterpretados.
É importante o aspecto salientado pelo
ecofeminismo relativo à possibilidade de pensar numa vida de relações
pessoais mais próximas da natureza e também mais em contato com os
sonhos alimentados por diferentes grupos. O ecofeminismo se empenha em
pensar uma teologia que tudo relaciona, que respeita e celebra a
diversidade, as combinações, conforme está escrito: “Há diversidade de
dons da graça, mas o Espírito é o mesmo” (1 Coríntios 12,4). A redução a
uma única expressão implica o risco de matar a vida. Além disso, a
biodiversidade ou pluralidade vai revelar que o cosmos, a Terra e todos
os seres estão em processo, em constante desenvolvimento; é imperioso
afirmar uma convivência em meio a tamanha diversificação. A unidade não
deve ser pensada como sinônimo de perda de identidade, mas como
afirmação dessa identidade (Gebara, 1997, p. 102).
Finalmente, a perspectiva ecofeminista não é
fechada, mas aberta ao diálogo, tendo a mulher como interlocutora
privilegiada. A articulação do feminismo para pensar a vida e a ecologia
“nos abre não só para uma possibilidade real de igualdade entre
mulheres e homens, de diferentes culturas, mas para um relacionamento
diferente entre nós, com a Terra e com todo o cosmo” (Gebara, 1994, p.
69).
4. As comunidades de fé e a atual questão ecológica
Os movimentos atuais do Espírito são tão
desafiadores para a teologia quanto a atual realidade ecológica. Diante
disso, não é possível atender a esses desafios utilizando uma
interpretação do tipo normativa. Uma centralidade do Espírito Santo na
teologia cristã atual certamente muda o modo de elaborar a teologia e de
ler seus temas clássicos, como a eclesiologia e a cristologia, que
ocupam o lugar central na interpretação normativa. A teologia ocidental
se moveu no interior de um eixo interpretativo
eclesiológico-cristológico. Uma interpretação teológica que contemple um
novo eixo, que deve emergir do diálogo com os movimentos do Espírito
(das comunidades de fé cristã e suas práticas) e da realidade ecológica
atual, é o que propomos e chamamos de pneumatológico-ecológica.
Há, em nosso continente, espetacular avanço
do movimento carismático e do pentecostalismo, e não faltam
interpretações com mediações da sociologia e da antropologia. Essas
articulações socioantropológicas sugerem sempre interpretações que
associam superprodução simbólica como compensação da real carência
econômica na vida das pessoas crentes. A teologia se valeu muito dessa
mediação para articular o seu discurso, como ato segundo dessas leituras
socioantropológicas. Dessa forma, ela não teve condições de fazer uma
leitura teológica desses novos movimentos e perceber sua dinâmica, a
riqueza simbólica neles presente e as imagens de Deus que deles emergem.
No entanto, foram esses movimentos do Espírito que deflagraram
transformações importantes na teologia cristã: “com o ingresso das
Igrejas ortodoxas em 1961 e o ingresso, mais tarde, de algumas Igrejas
pentecostais no movimento ecumênico, é nesses dois terrenos que estão
ocorrendo os avanços na pneumatologia” (Moltmann, 1998, p. 16). Isso
ocorre de modo muito mais significativo na América Latina. O fato é que a
teologia seguiu o rastro dessas interpretações socioantropológicas e
repetiu a ênfase na eclesiologia e na cristologia. Tanto uma quanto
outra foram determinantes para a rica e criativa reflexão teológica
latino-americana.
Ora, privilegiar a cristologia e a
eclesiologia na teologia do nosso continente significa dizer que houve
grande preocupação em dialogar com a herança teológica em que prevaleceu
o viés hermenêutico cristologia-eclesiologia na reflexão teológica
libertadora. Dessa forma, as grandes inovações da teologia
latino-americana se deram dentro desse eixo interpretativo. Não obstante
a contribuição que a teologia da libertação ofereceu e ainda oferece, é
preciso fazer essas constatações críticas quanto aos seus limites.
Portanto, é preciso avançar, buscando uma imagem do Espírito Santo
plausível para a realidade da América Latina, de tal maneira que a
natureza também seja incluída nesse projeto de libertação, visto que o
mundo moderno a destrói sem medida e os limites da ação do Espírito
Santo não se esgotam no ser humano, mas se estendem a toda a criação.
5. Espírito e natureza: considerações finais
É interessante refletir sobre os aspectos da
fé cristã e da vida na perspectiva da pneumatologia, partindo da
experiência e da teologia do Espírito Santo. Partir da experiência
significa ultrapassar os limites da teologia da Igreja, que é a
“teologia dos pastores e dos padres” (Moltmann, 1998, p. 29). Partir da experiência,
então, significa fazer “teologia de leigos”, e isso implica privilegiar
e ampliar os espaços onde a vida se faz e se refaz, se produz e se
reproduz, o que equivale a estender os espaços de comunhão com o
Espírito.
A teologia se mostra atual quando vai além
dos métodos que circunscrevem a ação do Espírito nos limitantes espaços
eclesiásticos – porquanto enfatizam a relação entre pneumatologia e
eclesiologia – ou entendem a ação do Espírito apenas como uma
confirmação totalmente subjetiva do processo revelador objetivo de
Jesus, à medida que sublinham a relação subserviente da pneumatologia
para com a cristologia. Contudo, o Espírito vivificante sopra onde quer
(João 3,8).
A teologia deve ser articulada de modo
dialogal e inclusivo, atentando também para os problemas sociais,
étnicos, políticos e ecológicos. Quando a teologia falar de salvação,
deverá relacioná-la com a vida eterna e com a cura nesta vida oprimida,
doente e pobre. Com isso, a salvação não deve significar instâncias
separadas entre além e aquém. “‘Além’ e ‘aquém’ não mais são níveis
diferentes do ser na terra e no céu, mas diferentes épocas do mundo do
único processo de redenção. Os tempos presente e futuro estão imbricados
um no outro pericoreticamente como antecipação e plenificação” (Moltmann, 2004, p. 205).
O outro elemento do eixo interpretativo que
temos sugerido é a ecologia. A reflexão sobre Deus, e sobre tudo que a
ele se relaciona, deve ser total, de tal modo que celebre a vida inteira
(humana e não humana). O ser humano não é o dominador e o centro da
criação, mas tem a tarefa de cuidar da criação, guardá-la (Gênesis 2,15)
e desenvolver uma relação harmônica com a “mãe-terra (‘adamah)”
(Reimer, 2006, p. 14). Por isso, insistimos que a teologia
latino-americana não deve se esquivar dos problemas ecológicos, como se
isso não fizesse parte de nossa realidade.
A história dos primeiros habitantes do nosso
continente revela uma herança de relação de respeito à natureza que, de
algum modo, precisa ser resgatada. Respeitar a criação é respeitar a
vida. Não se podem negligenciar certos carismas no dia a dia do mundo,
no movimento ecológico, nos processos de afirmação da vida. As questões
ecológicas aqui estão ligadas à questão da qualidade da vida,
particularmente dos seres mais frágeis e das pessoas mais pobres em suas
precárias condições de existência. Por isso, a experiência carismática
do Espírito de Deus não deve ser despolitizada, tampouco despolitizante,
pois o Espírito Santo é fonte de energia, fonte da vida, de toda a
vida.
Finalizamos aqui estas observações
introdutórias sobre a preocupação principal da teologia hoje. O Espírito
na vida das comunidades cristãs em nosso continente ocupa lugar
central, e assim será nos próximos anos da história da Igreja. De igual
modo, a questão ecológica se fará presente na reflexão teológica e
também nas práticas de fé.
fonte: http://vidapastoral.com.br/artigos/temas-teologicos/espirito-e-natureza-na-reflexao-teologica-atual/
* Doutor em Teologia (PUC-Rio) e professor no Instituto Metodista Bennett (RJ).
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